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Parkour: a arte do deslocamento

Conheça esse novo meio de se locomover, popular entre jovens

Por Milena Lumini

Imagine a seguinte situação: você vai prestar um concurso e esquece os documentos dentro do seu apartamento, no segundo andar. O apartamento está trancado e você não tem as chaves. Você chama o chaveiro ou escala o prédio, entra pela janela e pega as chaves?

Se a segunda opção parece impensável, saiba que algum dia um jovem pode te ajudar dessa maneira. Com a filosofia “ser forte para ser útil” o Parkour é divulgado pela internet e ganha adeptos por todo mundo.

Par o quê?

Parkour, também chamado de “a arte do deslocamento”, é uma atividade física que consiste em utilizar o corpo para transpor obstáculos da maneira mais rápida e eficiente possível através de escaladas, equilíbrio, saltos e força.

O Parkour surgiu na França na década de 1980. O ex-combatente vietnamita Raymond Belle aplicou o treinamento recebido – o parcours du combattant  – a seu filho David. Aos 15 anos, David e os irmãos Yahn, Frederic Hnautra e David Malgogne adaptam os treinos ao cenário urbano. Surge aí a atividade que, dez anos depois, recebe o nome de “Parkour”, em referência ao treinamento militar que a orientou. 

Mais tarde, o Parkour originou outras “artes do deslocamento” como o Freerunning. Ao contrário do Parkour, no Freerunning é permitido incluir no percurso movimentos artísticos e não necesariamente eficientes como acrobacias.

No Brasil o PK (como o parkour é popularmente conhecido) chegou em 2004 através de vídeos na internet. Os praticantes, ou traceurs, começaram a treinar imitando as manobras de David Belle e do grupo Yamakasi. Pouco tempo depois foi criada no Orkut a comunidade brasileira de Parkour - a internet ainda é a melhor forma de divulgação dessa atividade.

Sem rivalidade. Uma filosofia de vida

Não há regras ou competições no Parkour. Os traceurs se reúnem para praticar as manobras e um ajuda o outro. Eles acreditam que a união leva ao progresso individual, enquanto a competição gera rivalidade – o que desestabiliza o grupo e freia a evolução. “A gente busca superar a si e não ao próximo”, diz Murilo Andrade, de 16 anos e traceur há um ano.

O grupo existe para trocar experiências e ajudar os iniciantes. Geralmente, quem começa a praticar superestima suas habilidades e por isso acidenta-se com maior freqüência. A integridade física é um dos princípios do Parkour. Por isso, o corpo deve ser preparado com técnicas e exercícios de força para não ser colocado em risco. 

Controlar o corpo e entender seus limites também gera uma mudança na mente. É a chamada "visão parkour": os traceurs vêem o ambiente como um conjunto de obstáculos a serem transpostos. Marcelo da Silva, traceur há 4 anos, explica que o fator psicológico está presente a todo momento durante as manobras “O medo impede a cabeça de trabalhar para a evolução”, diz. Por isso, treinar a coragem e a superação dos medos ajuda a enfrentar outros desafios da vida

União por todo país

Embora não haja campeonatos de Parkour, traceurs de diversas cidades reúnem-se em encontros regionais ou até nacionais para trocar experiências. Essa é uma oportunidade de se aprender novas manobras e conhecer outros cenários e obstáculos.

Associação Brasileira de Parkour surgiu dessa necessidade e hoje realiza alguns encontros. É o que nos conta Jean Weiner, presidente da ABPK de 2006 a 2008 e membro do grupo Geração Tracer na entrevista abaixo. Clique nas perguntas para ouvir as respostas.

1 - Qual a sua experiência com o Parkour?

2 - Como surgiu o PK no Brasil?

3 - Como surgiu a ABPK?

4 - Quais os eventos realizados pela ABPK?

5 - Qual a sua opinião sobre as aulas de Parkour?

6 - O que você recomenda para quem quer começar a treinar Parkour?

Treinos em Florianópolis

Existem 5 comunidades no Orkut sobre o Parkour em Florianópolis. Ao todo, elas somam 2003 membros. Nas comunidades são divulgados vídeos, encontros de traceurs e treinos. Os traceurs reúnem-se geralmente no sábado ou domingo à tarde.

O treino começa com um alongamento e aquecimento em obstáculos menores. Depois, praticam em obstáculos maiores. As atividades podem ser mais técnicas ou de força. Os técnicos buscam aprimorar as manobras e os de força, a resistência do corpo. 

Durante a prática existe um sentimento de descontração e companheirismo. Uma das atividades é o “pega-pega parkour”, em que os traceurs têm que transpor os obstáculos do local durante a brincadeira. 

Marcelo da Silva também costumava treinar seguindo um traceur mais velho. “Ficávamos em fila. O primeiro puxava o treino passando pelos obstáculos. Isso ajudava quem tinha menos resistência a se esforçar, ninguém queria ficar para trás.”

Veja o vídeo do treinamento de traceurs de Florianópolis no dia 27-06

 

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Para os traceurs, a UFSC é o melhor lugar para praticar o Parkour em Florianópolis por ser um ambiente amplo e com vários obstáculos diferentes. Os primeiros praticantes da cidade treinavam na UFSC, conta Marcelo, “Mas quando alguns tiveram que parar, a prática ficou desorganizada e foi proibida pela Reitoria”, explica.

Lugares com muitos seguranças, vigias ou polícia são evitados pelos traceurs. O Parkour é frequentemente visto como vandalismo por quem não conhece suas técnicas e filosofia. Em alguns lugares, postes e outros obstáculos são melados de graxa para evitar a prática. Porém, os traceurs procuram zelar pelo espaço físico, “Uma vez eu estava treinando com um amigo e um guarda veio reclamar que a gente estava sujando a parede, daí ele tirou uma esponja e um detergente da mochila e disse ‘Já vamos limpar”, conta Murilo Andrade.