No Brasil da década de 70, o índice da população acima do peso ideal era de 16%. Hoje, mais de 80 milhões de brasileiros tem excesso de peso e sofrem com a obesidade, o que representa 43% da população. Os efeitos mais evidentes desses problemas são o comprometimento da estética e o preconceito enfrentado, mas o mais grave deles é muitas vezes imperceptível: o diabetes.
A associação das duas doenças é tão evidente que já ganhou nome do Ministério da Saúde: diabesidade. Esse é o termo usado hoje para designar a estreita relação entre a obesidade e o diabetes tipo 2, que compreende 90% dos casos entre os diabéticos. Dentre os pacientes acometidos com esse tipo da doença, 80% estão acima do peso.
Qual a relação entre gordura e diabetes?
Os carboidratos presentes na alimentação, principalmente das massas e dos doces, são a principal fonte de energia do organismo. Quando chegam ao aparelho digestivo, os carboidratos são transformados em glicose e distribuídos para as células do corpo. Mas para entrar nas células, a glicose precisa da ajuda da insulina, hormônio produzido no pâncreas. Nos obesos, a insulina tem mais dificuldade para transportar a glicose para dentro das células (resistência periférica), fazendo com que sobre glicose na circulação. Assim, o pâncreas é constantemente estimulado a fabricar mais insulina, levando o órgão à exaustão, sem conseguir mais fabricar a insulina, o que caracteriza o diabetes tipo 2.
Apesar de ser um importante desencadeador do diabetes, a obesidade não é o único. Outros fatores de risco são: mais de 45 anos, sedentarismo, hipertensão, colesterol e triglicérides elevados e histórico familiar de diabetes. O Ministério da Saúde estima que existam no Brasil 11 milhões de diabéticos, 20% deles sem diagnóstico. A doença pode começar a afetar o organismo dez anos antes de o paciente notar os sintomas.
Para que o diabético possa ter uma vida normal, reduzindo o risco de complicações, como perda progressiva da visão e problemas vasculares, é preciso controlar a doença. Isso significa manter o nível de glicose no sangue entre 80 e 100 miligramas por decilitro durante o jejum. Depois da alimentação, os níveis devem ser inferiores a 140 miligramas por decilitro. O controle pode ser feito em casa, através do dosador portátil de glicemia, várias vezes ao dia, dependendo da gravidade da doença, o que determina o uso de mais ou menos medicamentos.
Além da insulina, aplicada através de injeções, geralmente pelo próprio paciente, os demais medicamentos para o controle do diabetes são administrados por via oral. Quanto mais precoce o diagnóstico da doença, mais fácil é o controle e doses menores de remédios serão exigidas.
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E o diabetes tipo 1?
Essa forma de diabetes tem pouca relação com a obesidade. Ela depende de fatores genéticos e é caracterizada por uma resposta exagerada do sistema imunológico, que lança um ataque contra o pâncreas do próprio paciente. Apenas 5% dos casos são do tipo 1. O pâncreas desses pacientes não produz insulina e eles precisam receber doses do hormônio constantemente.
Tratamento
Existem hoje diversas drogas que tornam mais confortável a convivência com a doença. Os remédios, hoje, agem de várias formas: estimulam o pâncreas a secretar mais insulina, inibem a ação de enzimas que comprometem o bom funcionamento do pâncreas e aumentam a capacidade da insulina de introduzir a glicose nas células. Cada paciente pode precisar de um desses tipos, ou de vários combinados.
Há muitos recursos para o tratamento clínico do diabetes, mas muitas pessoas não alcançam o sucesso esperado. Entre 30% e 50% dos pacientes não conseguem controlar a doença. Conviver com o diabetes requer disciplina, pois é preciso seguir dieta, não descuidar dos remédios, controlar rigorosamente os níveis de açúcar no sangue e tomar insulina sempre que necessário. Os índices de glicemia podem variar durante o dia todo, de acordo com situações de ansiedade, por exemplo, que fazem o índice subir ou cair abruptamente, podendo ocasionar desmaios.
Existe cirurgia eficaz contra o diabetes?
Nos últimos anos, os médicos observaram que diabéticos obesos submetidos às cirurgias convencionais de redução de estômago tinham uma melhora do diabetes. Poucos dias depois de deixar o hospital, os níveis de glicose no sangue eram normalizados.
Quando o cirurgião altera o trato gastrintestinal na cirurgia de redução do estômago, ocorrem mudanças hormonais. O procedimento suprime o hormônio que aumenta o apetite (grelina) e estimula a liberação no intestino de outros hormônios (as chamadas incretinas, principalmente a GLP1) que contribuem para o aumento da produção de insulina pelo pâncreas. É por isso que muitos pacientes se livram dos remédios para o controle do diabetes.
Ouça a entrevista sobre a cirurgia para o diabetes com o Dr. João Caetano Marchesini, Cirurgião do Aparelho Digestivo e da Obesidade Mórbida e membro titular da Sociedade Brasileira de Cirurgia Bariátrica e Metabólica.
Combater a diabesidade é o principal desafio da saúde pública no mundo atualmente. É preciso alterar o estilo de vida e mudar hábitos alimentares de milhões de pessoas. Nas próximas duas décadas, os novos casos de diabetes vão crescer 54% no mundo, segundo estimativa da Organização Mundial da Saúde, atingido 438 milhões de pessoas. Além desses casos, haverá um grupo ainda maior de pessoas que estão prestes a se tornar diabéticas: os portadores da síndrome metabólica. Ela é caracterizada por acúmulo de gordura abdominal, intolerância à glicose, hipertensão, colesterol e triglicérides elevados e leva, em 65% das vezes, o portador a se tornar diabético.