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Ter, 10 de Novembro de 2009 13:53 

Vídeo exibido pelo GNT gera indignação de portugueses

Por: Murilo Bomfim e Luisa Nucada

Em setembro de 2009, o telejornal português Jornal de Notícias reproduziu um vídeo feito em 2007 pela atriz brasileira Maitê Proença. A gravação, que tem pouco mais de cinco minutos, mostra a apresentadora fazendo piadas que classificam o povo português como burro. O vídeo foi ao ar no programa “Saia Justa” do canal fechado GNT e fez parte do quadro “Saia de Vídeo”. Os portugueses destacam o fato de todas as cinco apresentadoras terem rido ao fim da exibição. A embaixada do Brasil em Portugal recebeu diversas reclamações de cidadãos portugueses. “A repercussão desse lamentável erro de imprensa não irá afetar as excelentes relações entre Portugal e Brasil, mas é uma pena que uma figura como Maitê Proença tenha feito um trabalho de tão má qualidade”, diz a ministra conselheira da embaixada, Carmem Moura.

O episódio motivou a criação de um abaixo-assinado virtual que exigia um pedido de desculpas em vídeo, áudio ou texto. A apresentadora entrou ao vivo por telefone em um telejornal da TV SIC e gravou, em 13 de outubro de 2009, um vídeo através do GNT onde explicou que tudo não passava de uma brincadeira e que se considerava portuguesa por pertencer à família Galo e à família Proença.

O escritor português Miguel Souza Tavares, que já foi apontado como namorado de Maitê, disse ao “Correio da Manhã” que a reação dos compatriotas foi provinciana. “Somos um povo sem capacidade de humor e autocrítica. Há um português que vá ao Brasil e não tire sarro? Só um povo com complexos é que se sente melindrado com uma coisa destas”, critica.

Piadas, estereótipos e preconceitos

“Vários intercambistas já me disseram que, no primeiro dia de aula na UFSC, ouviram piadinhas de português, e insinuações de que não conseguiriam terminar a disciplina”, conta Isabel Castro, intercambista portuguesa que estuda arquitetura na UFSC. A ideia de que o povo português é ignorante, tem pouca capacidade intelectual, é reforçada constantemente pelas piadas étnicas, que se utilizam da suposta “burrice” do lusitano para criar situações cômicas. Mas de onde veio essa imagem pejorativa?

Há quem diga que o surgimento desse estereótipo ocorreu por causa de imigrantes portugueses vindos da região do Minho, no norte de Portugal. Eram proprietários rurais pobres, rudes, que tiveram dificuldades para adaptar-se ao Brasil. Humildes, não faziam parte da camada mais instruída da sociedade portuguesa. Do convívio entre esses imigrantes e os brasileiros veio o preconceito de que o português é “burro”. Outra explicação seria a herança deixada pela relação metrópole-colônia: fazer chacota com os colonizadores seria uma maneira de vingar-se deles e rejeitar o passado colonial.

O que nem todo brasileiro sabe é como os portugueses nos vêem. “Aqui nós temos fama de malandros, preguiçosos, e as mulheres tem uma imagem de prostituta...”, diz Cecília Tavares, brasileira que cursa comunicação social na Universidade do Porto. A malandragem é uma impressão causada pela simpatia, sociabilidade e sorriso fácil que, ao contrário dos portugueses, mais frios e fechados, passam uma imagem pouco confiável. Já a ideia de que as mulheres são promíscuas deriva da beleza e calor da mulher latina e também do fato de que muitas emigrantes do Brasil realmente vão para lá para se prostituir. Esse preconceito foi inclusive usado para ofender a atriz Maitê Proença, em comentários que os portugueses deixaram em seu blog, insinuando que ela seria atriz pornô e prostituta.

Leia o que João Pereira Coutinho, Clóvis Rossi e Sérgio de Andrade escreveram sobre o caso.
Leia nota oficial do GNT.
Veja camiseta sobre o caso lançada pela empresa portuguesa Cão Azul.

Confira o que três intercambistas portuguesas (do curso de Arquitetura e Urbanismo da UFSC) falam sobre o caso e sobre a relação entre portugueses e brasileiros:

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