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Com vocês, meu bairro (e sua história)

Por Camila Ribas

Como ensinar a geografia da Ilha de Santa Catarina, com todas as suas peculiaridades, para alunos do segundo ano do ensino fundamental? Para a turma 2-C do Colégio de Aplicação, a resposta foi encontrada nos próprios alunos. O Projeto "Bairro do meu amigo", elaborado pela professora Amaranta Vezoni de Bona juntamente com as crianças, permite que elas explorem ativamente os bairros um a um. Guiados por um dos colegas, a turma aprende muitos detalhes sobre cada um dos bairros visitados todas as semanas, descobrindo na prática o conteúdo dos livros estudados.

A idéia inicial era de que cada aluno produzisse um texto individual sobre o lugar onde vive a partir de pesquisas com moradores antigos, mas o que era um simples trabalho individual se desenvolveu. "As crianças começaram a demonstrar muito interesse pelas histórias que os outros traziam de seus bairros", conta a professora Amaranta. Para aproveitar esse interesse, através da disciplina Integração Social, que aplica história e geografia em trabalhos relacionados à identidade da criança, decidiu que poderiam ser feitas visitas a cada bairro, e após, ser feita a redação de um texto coletivo. As crianças devem resgatar para os colegas aspectos marcantes como a história do bairro, pontos históricos, turísticos ou de outra natureza.

Gabriela Rigoli, de 7 anos, uma das alunas, conta que a tarefa do responsável pelo bairro era mostrá-lo para os seus colegas e que quase sempre os pais também serviam como guia, participando ativamente de todo o processo. Ela relembra uma das visistas: "No dia do Thor, nós fomos no Cetas (Centro de Triagem de Animais Silvestres). Foi muito gostoso de conhecer e ver de perto araras, tartarugas e outros bichinhos". Já foram visitados vários bairros como Rio Vermelho, Campeche, Saco dos Limões e Trindade.

Paricipação ativa

Os princípios-chave que regem essa forma de aprendizado são as teorias do pedagogo espanhol Fernando Hernández, segundo as quais os alunos deixam de ser receptores passivos para se tornarem os sujeitos do processo de aprendizagem, ou seja, ao invés de assistir a aulas e receber as teorias, eles próprios elaboram o projeto e, sob a orientação do professor, o desenvolvem ativamente, alcançando assim o aprendizado.

A proposta pedagógica de Hernández é impulsionar o estudo pela força da curiosidade das crianças. No artigo Após a aventura, uma utopia, que inaugurou a seção "Mosaico" da revista Pátio, especializada em pedagogia, o autor defende que o processo clássico de ensino estanca a criatividade e a possibilidade de aquisição real de conhecimento. Ele defende que a escola deve ser um ambiente de indagação, criação e instigamento à busca pelo saber. Um lugar onde "desafiemos os tempos predeterminados impostos pelas estruturas e normas generalizadas, que tentam impedir que flua o desejo de aprender", provoca.

Para completar a estrutura, a presença dos  pais é obrigatória. Nos conselhos de classe, convocados pelos próprios alunos, são apresentados os resultados das pesquisas em portfólios, painéis ou de outra forma que os alunos e professor considerarem mais válida para expressão daquele aprendizado. A coordenadora Maria Clarete Andrade entende que  é essencial que os alunos tenham domínio do conhecimento que estão adquirindo e sejam capazes de apresentá-lo aos pais sem a ajuda do professor. "A maior riqueza do projeto é que colocamos as crianças no  papel de pesquisador", comemora.

Leia aqui o artigo Após a aventura, uma utopia  -na íntegra e saiba mais sobre os projetos do Colégio de Aplicação no site do colégio.