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Nada de arte contemporânea

Por Angieli Maros

Encontrados em quase toda a costa brasileira, os sambaquis são depósitos construídos pelo homem sob a forma de pequenas elevações. São formados, sobretudo, por restos de alimentos de origem animal e outros tipos de materiais orgânicos, como esqueletos humanos e conchas, por exemplo. De acordo com Adnir Ramos, antropólogo e responsável pelo projeto ‘Arte Rupestre e Arqueoastronomia em Santa Catarina’, “para os povos que viviam nas regiões dos sambaquis, a sobra era uma coisa sagrada. Tudo o que usavam, em vez de jogar, juntavam nos montes. Inclusive seus corpos eram enterrados lá”.

Estudos sugerem que os sambaquis tenham sido produzidos por povos que viveram na costa brasileira entre 8 mil e 2 mil anos antes do presente.

No estande, montado na 8ª SEPEX, além de conhecer reproduções de algumas pinturas espalhadas pelas praias de Florianópolis, também entendemos a importância da posição do sol (solstícios e equinócios) para os povos sambaquis, que, segundo Ramos, relacionava-se com rituais de fertilidade. “Como pessoas da mesma família não podiam casar entre si, os diferentes grupos de sambaquis se encontravam no início do verão. As mulheres eram disputadas em competições de caça, mas eles só se casavam perto do carnaval. Quando chegava a Páscoa, a mulher era fertilizada para que o a criança pudesse nascer na primavera, estação favorável à sobrevida, uma vez que  o clima era adequado e os alimentos se tornavam abundantes”, relata.

O antropólogo também defende a linguagem rupestre como uma linguagem universal e que não é aleatória. “Há uma sequência, uma lógica em todas essas pinturas; elas podem ser interpretadas como sendo conhecimento científico avançado. Muitos desses desenhos eu interpreto como sendo reproduções de DNA´s e estruturas celulares”.

Existem hoje em Santa Catarina cerca de 137 instalações rupestres, sendo que apenas 27% encontram-se em bom estado de conservação. Se não houver uma mobilização pública para promover políticas de conservação, as pinturas serão, daqui há algum tempo, apagadas e se tornarão impróprias para estudo.
Ramos ainda revela que “não há um mínimo esforço pra conservação dessas inscrições. Cansei de ver gente jogando prancha e até mesmo fazendo fogo em cima das pedras”.