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Seg, 03 de Dezembro de 2012 14:56

Marcas que ficam para sempre

Os riscos de fazer uma tatuagem de forma descuidada ou impulsiva
 
Texto: Ediane Mattos ( Este endereço de e-mail está protegido contra spambots. Você deve habilitar o JavaScript para visualizá-lo. )
Fotos: Ediane Mattos e arquivo pessoal. Arte: Pamela Carbonari ( Este endereço de e-mail está protegido contra spambots. Você deve habilitar o JavaScript para visualizá-lo.

Elas estão por todas as partes e são objetos do desejo de pessoas de várias idades. Mas fazer uma tatuagem é muito mais que escolher desenho, estúdio, profissional, sentir dor, é tomar uma decisão que vai ficar, na maioria das vezes, para a vida toda. Só que nem sempre as coisas funcionam como planejado e reverter o que foi feito significa mais dor, mais gastos e mais problemas. 
 

A jovem F.G., que prefere não se identificar, vai levar consigo a marca de um ato impensado e o arrependimento que surgiu logo após a última agulhada. Com 14 anos,  decidiu fazer uma tatuagem. O desenho tribal ela viu em uma revista e sem que sua mãe soubesse procurou um tatuador. “Queria fazer com um tatuador bem conhecido, mas quando cheguei no estúdio havia muitos clientes esperando e acabei fazendo com outro sem muita experiência e que tinha a mão bem pesada, acabou não ficando um trabalho legal. Eu não gostei de nada, não gostei da imagem, não gostei dos traços, não gostei de nada. A expectativa era uma e na realidade ficou completamente diferente.”.


A frustração que sentiu na hora acompanhou F.G. durante 15 anos. “É como se eu usasse uma roupa que não tem nada a ver comigo, a sensação que eu tinha era essa. Eu me sentia mal o tempo todo.” 

Há dois anos decidiu remover a tatuagem. O método escolhido foi o de dermobrasão, uma técnica de lixar determinada região da pele com um motor de alta rotação e quando a área é muito grande é preciso fazer por partes.  “Foi raspada a pele. Fiz em duas partes. A primeira eu fui uma cobaia, o cirurgião nunca tinha feito esse procedimento. Ele tirou camadas da minha pele e deixou que ela se regenerasse naturalmente. Demorou quatro meses e ela não cicatrizou, então tive que fazer enxerto de pele. Procurei outro cirurgião plástico para remover a metade que tinha ficado. Fiz  a remoção da outra parte com o mesmo método e na hora eu já fiz o enxerto de pele.”

Estudos revelam que F.G. não está sozinha na decisão, cerca de 10% dos tatuados decidem remover seus desenhos.Tirar a tatuagem é bem mais complicado e doloroso que fazer. 
 
Além do dermobrasão, há a excisão, um procedimento de retirada cirúrgica da pele tatuada e posteriormente fechada com pontos, indicado para pequenas tatuagens. Mas o método mais avançado é o de remoção a laser. Ele “estoura" o pigmento em partículas, que são absorvidas e eliminadas pelo organismo. O objetivo é clarear a tatuagem um pouco a cada sessão. 
 
Segundo a dermatologista Silvia Maria Schimidt, presidente da Sociedade Brasileira de Dermatologia Regional de SC, muitas pessoas acreditam que com o método de remoção a laser ficou mais fácil e rápido retirar uma tatuagem. Ela explica que é demorado, doloroso e mais caro que os demais. “Algumas pessoas pensam que vão retirar em apenas uma sessão porque fizeram em uma sessão. Para remover tem que pensar em pelo menos 10 sessões. É um custo alto, infinitamente mais alto do que o custo de fazer a tatuagem. A maioria vem achando que duas ou três sessões serão suficientes. O que é uma ilusão. E, também, dói porque queima. De acordo com a profundidade do pigmento cada disparo de laser que a gente dá é uma queimadura. É bem dolorido. Então, dói para fazer e dói para tirar.”

 
Alguns tatuados decidem cobrir o desenho com outro maior. A menor C.C. quer cobrir a tatuagem que fez há dois com autorização da mãe, Moana Casagrande. A jovem tatuou o nome da mãe, o símbolo do infinito e o sobrenome do avó. Ela não gostou da letra que escolheu. “Eu até falei para não escolher aquele tipo de letra, mas ela gostou e fez. Agora se arrependeu. Quer cobrir, mas eu não quero deixar. Agora eu não deixo mais. Só com 18 anos”, afirma a mãe. 

Em Santa Catarina, como em alguns estados, “é expressamente proibida a realização de tatuagem ou aplicação de piercing em menor de 16 (dezesseis) anos de idade, e em maior de 16 (dezesseis) anos e menor de 18 (dezoito) anos somente com autorização dos pais ou responsável legal”, segundo a Lei N° 15.122. A autorização deve ser registrada em cartório e o documento deve ser guardado para ser apresentado caso haja uma fiscalização. Os profissionais que infringem a lei podem receber advertência, multa e ter o alvará de funcionamento cassado, além de responder por lesão corporal. 

O proprietário do estúdio Zulu Tatoo, Maurício Akcelrud, diz não concordar com a lei e que isso resulta em casos irresponsáveis de adolescentes que acabam colocando piercing por conta própria. “Claro que uma criança de 12 anos eu não concordaria que fizesse uma tatuagem, mas colocar um piercing eu acho normal. Faz com que muitos adolescentes coloquem em casa, sem nenhum cuidado e acabem se infectando, se machucando. Na verdade essa lei foi um tiro no pé.” 
 
Maurício chama a atenção de pessoas que procuram por estúdio para realizarem o procedimento proibido. “Eu sigo a lei pela seriedade da minha profissão, mas não concordo com essa lei. Se você procurar você vai encontrar lugares que fazem, mas o cliente tem que avaliar que se o local não tem comprometimento com a lei, até que ponto ele vai ter com a saúde?!”.

Para ter uma boa tatuagem, além de um bom profissional, material, ambiente e cuidados posteriores também influenciam. Maurício explica que um bom resultado depende 50% do estúdio e 50% do cliente. “A gente depende muito da responsabilidade do cliente diante dos cuidados que são necessários. Às vezes você explica os cuidados e não adianta. Enquanto você está falando eles já estão mexendo no celular, se arrumando para sair, mostrando o quanto estão preocupados com a saúde. Teve um cliente que entendeu que não podia passar nem água. A gente fala muito claramente, tira o plástico, lava a tatuagem, refaz o curativo. Não sei por que cargas d’água ele entendeu que não podia pegar nem água na tatuagem. Ficou uns três, quatro dias e depois apareceu no estúdio com um negócio que deus me livre de ver um negócio assim de novo.”
 
Para Maurício, muitas vezes as pessoas se preocupam mais com o preço que com a qualidade do serviços. “O pessoal gosta muito de preço. Eu já vi muita coisa horrível acontecer porque a pessoa escolhe pelo preço e depois vem aqui e pede para cobrir. Acaba saindo mais caro. Ele tem que saber que está pagando pela saúde, por um bom trabalho.” Para que não haja arrependimentos ele dá um conselho. “Tatuagem é para sempre. Não vale ter tatuagem por ter. Faz uma força, procura um bom profissional. Não procura por valor, procura por qualidade.”
 
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