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Dom, 24 de Junho de 2012 17:02

Número de seguranças é insuficiente

Texto: Ediane Mattos ( Este endereço de e-mail está protegido contra spambots. Você deve habilitar o JavaScript para visualizá-lo. ) e Laís Souza ( Este endereço de e-mail está protegido contra spambots. Você deve habilitar o JavaScript para visualizá-lo. )

Fotos e Infografia: Laís Souza


A sensação de insegurança que vivemos em nossos bairros e cidade adentrou um terreno que até pouco tempo nos parecia seguro, o da Universidade. Nos últimos meses as notícias de assaltos, roubos de motos e sequestros relâmpagos têm se tornado cada vez mais frequentes. Contabilizando todas as denúncias do Departamento de Segurança Física e Patrimonial da UFSC (DESEG), em 2011, os casos de furto aumentaram 53% em relação ao ano anterior.

 A falta de efetivo concursado para cuidar de aproximadamente 40 mil pessoas que circulam pela UFSC diariamente e fazer a segurança patrimonial é a principal causa do problema. A contratação de terceirizados não surte grande efeito e o número de seguranças concursados só vem diminuindo. De acordo com o chefe do DESEG, Leandro Oliveira, não há concurso público para novas contratações há quase duas décadas. “Em 1994 eram aproximadamente 220 seguranças concursados, hoje são apenas 60. Não tem concursos desde 1992”.  Sem concurso, o problema se agrava cada vez que um servidor se aposenta, pois ninguém é chamado para ocupar a vaga.

Atualmente, 165 seguranças terceirizados, espalhados pelo campi, dão apoio aos concursados.
Essa parceria tem seus prós e contras conforme explica Oliveira, “A grande vantagem é que quando falta um funcionário, em 60 minutos, a empresa manda outro e a Universidade não tem problemas com férias ou custo com uniforme. Mas a maior desvantagem é a grande rotatividade. É ruim porque quando o funcionário está se adaptando à Universidade ele sai, entra outro e começa todo o processo de passar informações novamente e dar livre acesso aos locais, e nós também precisamos ter muito cuidado com isso”. A solução encontrada foi pedir para a empresa dar férias para esses vigilantes em período de férias da Universidade. “Como eles já conhecem muitos alunos e funcionários, os substitutos cuidam praticamente só das edificações, no período de férias, pois a circulação dos alunos é menor”, conta.


Para auxiliar na segurança, a UFSC possui um sistema de monitoramento eletrônico que conta com 881 câmeras instaladas no campus da Trindade, funcionando 24 horas/dia. Esse trabalho já apresentou resultados: a vigilância eletrônica ajudou a diminuir o índice de furtos no Laboratório de Graduação, LABUFSC, e na Biblioteca Universitária. Porém há apenas dois funcionários responsáveis pela vigilância, que se revezam em turnos de 12 horas.

Outro problema identificado pelo chefe do DESEG é “que não adianta melhorar a segurança interna, protegermos a comunidade universitária e o aluno sair da UFSC e ser assaltado na rótula. Isso já aconteceu, mas já diminui bastante. Hoje, praticamente todos os dias tem um policial militar na entrada do campus. Resultado de uma conversa do antigo reitor com os comandantes da Polícia Militar da Academia de Polícia Militar. São esses alunos que fazem o policiamento aqui”.

Para o delegado do Departamento de Investigações sobre Crime Organizado (DEIC), Renato Hendges, “esse sistema de monitorar as saídas dos alunos e o entorno da UFSC é válido, mas é preciso fazer um planejamento estratégico. Primeiro, através da área da inteligência, localizar os pontos de risco , e concentrar nesses pontos, o pessoal da área de segurança. Fica difícil para segurança identificar alguém fazendo vigia nas entradas, onde todo mundo passa como se fosse estudante. É preciso fazer uma proteção planejada, dentro de um perímetro onde pode haver riscos de ataques, de furtos”. 

Hendges explica que “esse problema ocorre em todas as áreas da sociedade, falta professor, falta policial. A criminalidade cresce proporcionalmente com a sociedade e infelizmente os nossos órgãos encarregados da segurança não estão acompanhando esse crescimento.” Os riscos da abordagem também dificultam a ação, já que em alguns casos os criminosos estão armados. “Esse pessoal precisa estar munido de armas não letais como tasers (armas de eletrochoques), com balas de borrachas, com bombas de efeito moral para que impeçam a ação desses marginais”, defende Hendges. Este ano, o pessoal da segurança da UFSC passou a trabalhar com pistolas elétricas. Foram compradas pela UFSC 11 tasers e 18 servidores foram capacitados para usá-las. Em casos envolvendo armas de fogo o DESEG conta com a colaboração da Polícia Militar.

 

Festas - O bode expiatório

Um assunto que divide opiniões entre estudantes e Universidade é a proibição das festas. No ano passado ocorreram 70 festas oficialmente permitidas. Nesses eventos há um intenso tráfico de drogas, segundo o chefe do DESEG, Leandro Oliveira. Porém, nos últimos três anos não houve registro de apreensão que classifique o portador como traficante. Ele explica que “o mais comum é o tráfico formiguinha, onde há vários vendedores na mesma festa, todos com pequenas quantidades de drogas ilícitas”. De acordo com o Ouvidor da UFSC, Arnaldo Podestá Junior, “hoje, o maior problema que estamos tendo são ocorrências relacionadas às festas. Os crimes de assaltos ocorrem em sua grande maioria durante esses eventos”.
Para o delegado Hendges, proibir as festas “é a mesma coisa que dizer ‘a pessoa está doente vamos cortar o pescoço dela que cura’, não é assim. Tem que compatibilizar. Eu acho que as festas devem ocorrer, porque os estudantes assim como todo mundo tem que ter o lazer. Essa interatividade também deve existir. As festas têm seus prós e contras. Proibir não seria o caminho mais adequado. Eu acho que deveriam encontrar outra solução que compatibilizasse segurança com a própria festa. O próprio pessoal da festa poderia contratar segurança privada”.


No entanto, o Ouvidor Arnaldo Podestá Junior explica que essa medida já foi adotada em algumas festas, porém nem sempre surte efeito. “O campus é aberto, entra muita gente estranha, e o pessoal que organiza as festas não tem esse controle de quantas pessoas irão se reunir no evento”.
Alguns alunos vítimas de crimes se dirigem à Ouvidoria da UFSC. A maioria das ocorrências registradas pelo órgão é feita através de e-mail. “A gente sempre solicita que se encaminhem direto ao Departamento de Segurança do Campus. Porque eles têm um sistema de monitoramento eletrônico que pode identificar os responsáveis pelo crime.”, explica o Ouvidor. Podestá Junior acredita que “o ideal seria que a Universidade fizesse um convênio com a prefeitura para utilizar, por exemplo, a passarela do samba para que as festas fossem realizadas lá. É impossível você fazer uma festa na Universidade e limitar o número de pessoas. Não tem como, na hora que começar tocar a música as pessoas começam a chegar. Nós não queremos cercar a universidade, não queremos transformá-la em uma ilha, porque temos que interagir com a comunidade, é um espaço público, mas temos que ver o que é possível fazer. Está muito frágil a situação dentro da UFSC”. A reitora Roselane Neckel foi procurada para falar sobre possíveis medidas a serem tomadas, mas não retornou.

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