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Falta lugar nas maternidades públicas

Por Tulio Kruse
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Janaína Machado Moura completou 41 semanas e um dia de gestação no último sábado, 21, quando foi informada no ambulatório do Hospital Universitário (HU) que não havia leito disponível. Com mais de três semanas além do tempo de gravidez ideal, ela pode ter graves complicações durante o parto se não tiver o bebê nos próximos dias.

O hospital justifica que é preciso dar assistência preferencial às mulheres que já estiverem em trabalho de parto, e sugeriu que ela e o pai da criança, Thiago Santana, procurassem vaga na maternidade Carmela Dutra, que fica no Centro, a uma distância de pelo menos oito quilômetros. A Carmela também estava com todos os seus leitos ocupados, informou o casal. 

“Não culpo o hospital nem os médicos, pois em todas as vezes que viemos aqui (no HU) fomos bem atendidos. Mas eles não têm as condições ideais para trabalhar. O governo não tem interesse em melhorar a situação” desabafa Santana.

Grávida há 38 semanas e um dia, Graciliane Duarte esperava que um leito fosse liberado no centro obstétrico do HU para conseguir dar à luz seu primeiro filho. Ao contrário de Janaína, ela não teve dificuldades para conseguir vaga no alojamento conjunto. Ela foi diagnosticada com diabetes gestacional no sétimo mês de sua gravidez e encaminhada ao hospital, pois tanto a mãe quanto o bebê corriam perigo.

Graciliane ficou então internada por nove dias e passou a receber injeções de insulina para ajudar a baixar o nível de glicose. O procedimento protege a saúde da mãe, mas aumenta as chances do bebê nascer com hipoglicemia. Internada pela segunda vez, no mesmo leito, ela teve o parto induzido assim que surgiu um lugar no centro cirúrgico.

Devido ao estágio avançado da gravidez, a placenta estava com alto grau de calcificação. Isso significa que ela estava deixando de cumprir sua função de passar alimento, e o bebê não crescia como deveria. Em alguns casos o feto pode até diminuir de tamanho com o repasse de nutrientes em menor quantidade. Mesmo com as complicações, Graciliane não reclama do serviço. “A comida para diabéticos não é das melhores, mas estou sendo muito bem atendida”, assegura.


Estrutura
Florianópolis possui duas maternidades públicas no município recebendo gestantes de toda a região metropolitana, que tem mais de um milhão de habitantes. Outro hospital público na região que tem maternidade é o Hospital Regional, em São José. Ao todo, o HU e a Maternidade Carmela Dutra possuem 124 leitos disponíveis em maternidades públicas para atender as gestantes do município. Na Carmela Dutra, são 102 leitos ao todo, sendo que 14 são destinados às grávidas de alto risco.

Dados da Secretaria Municipal de Saúde de Florianópolis mostram que nascem 150 crianças por semana, nas cinco maternidades da região. A clínica Santa Helena e a Clínica Ilha são as duas únicas maternidades particulares na cidade. Um parto na Clínica Ilha custa entre R$ 4,2 mil e R$ 4,4 mil. A maternidade tem 12 leitos individuais, que atendem tanto mães de recém-nascidos quanto grávidas que apresentam complicações durante a gestação e precisam ser internadas.

O HU tem seis leitos destinados às gestantes de alto risco no alojamento conjunto da maternidade, mesmo lugar onde ficam as mães que esperam pela alta dos médicos para voltar para casa. São 16 vagas para aquelas que acabaram de ter filhos. No centro obstétrico do hospital, onde acontecem os partos, há outras dez vagas: duas para gestantes que ficam em observação, com problemas de hipertensão até casos de aborto involuntário; quatro leitos para aquelas que estão em trabalho de parto; e quatro para pacientes que acabaram de dar à luz, e deveriam ficar em repouso ali por apenas uma hora. No último sábado, porém, o centro abrigava quatro mulheres que haviam parido há mais de um dia. Elas esperavam que as mães do alojamento conjunto recebessem alta, para então se encaminharem a esses quartos.


Reforma cancelada
O HU prometeu uma reforma que aumentaria o número de leitos na maternidade, que deveria ter sido feita há mais de um ano. A chefia do setor que contempla a maternidade e o centro obstétrico afirmou que o projeto foi perdido, mesmo com a verba aprovada pelo Ministério da Educação. Após a aprovação, alguns ajustes deveriam ter sido feitos, mas o prazo para a entrega do projeto com as alterações foi perdido pela Divisão de Manutenção de Serviços Gerais (DMSG). Para a reforma na maternidade, a divisão precisa elaborar um projeto inteiramente novo. Até agora, algumas reformas pontuais foram feitas nos banheiros do setor e no atendimento pré-parto, mas não foram suficientes para aumentar a capacidade.


Riscos da gravidez prolongada
No período entre 40 e 42 semanas de gestação, quando se considera que a gravidez é prolongada, aumenta gradualmente o risco de vida durante o parto. Para a mãe, a hemorragia e o trabalho de parto prolongado podem ser letais, enquanto a criança começa a sofrer muito antes disso. Aumentam-se as chances do cordão umbilical se comprimir ao redor do seu corpo, principalmente no pescoço, trazendo lesões cerebrais irreversíveis. O bebê também pode aspirar mecônio, seu próprio cocô, que nesse estágio fica mais espesso. Isso traz sequelas para a criança no futuro, ou morte prematura. Devido ao processo de envelhecimento da placenta, o bebê recebe cada vez menos nutrientes com a gravidez prolongada.

Pesquisas indicam que uma gestação com mais de 42 semanas aumenta o risco de mortalidade infantil, até dois anos de idade, mas não existem indícios de complicações após esse período. O tempo de gravidez é calculado a partir da última menstruação, o que pode causar diferença em relação à data exata da concepção. A melhor maneira de evitar este engano é fazer exames de ultrassom com antecedência e acompanhar o crescimento do bebê.

A gravidez prolongada é um problema que atinge de 4% a 14% das gestantes. Um bebê pós-maturo tem pele enrugada, pois nasce sem uma camada protetora, e geralmente é menor do que outros recém-nascidos, pois a falta de nutrientes faz com que ele consuma sua própria gordura.